Entrevista - Em La Maqueta, jovens vivem a experiência de outra economia possível


"Trabalhar no que gostamos e como gostamos". Com esse desafio, jovens universitários da Argentina criaram a cooperativa La Maqueta em 2007. A partir de suas experiências políticas e do conhecimento sobre cooperativismo que tinham, desenharam e elaboraram a ideia de trabalhar através da economia solidária. La Maqueta oferece serviços gráficos e de comunicação.

Com uma perspectiva autogestionada, as decisões e as responsabilidades são coletivas. Na prática, os jovens experimentam a formação de outro mundo baseado em valores de solidariedade e justiça. O nome do projeto "La Maqueta" reflete a ideologia do negócio: "uma pequena mostra do que queremos para a sociedade", assinala a apresentação dessa experiência, no site do grupo.

Em entrevista à ADITAL, o presidente de La Maqueta, Joaquín Fernández Sancha, fala, dentre outros temas, sobre a importância das cooperativas como alternativas de desenvolvimento para a juventude e sobre o apoio do governo argentino para a economia social.

ADITAL - Que realidade compartilhavam os jovens antes de serem parte da cooperativa? Qual foi a principal motivação para criar La Maqueta?

Joaquín Fernández Sancha – A maioria era jovem que estava estudando diferentes carreiras na universidade de La Plata e tinha a necessidade de se inserir no mundo do trabalho. Muitos conhecíamos o que era o cooperativismo e a autogestão porque vínhamos de diferentes experiências políticas e ideológicas, nas quais se falava muito do cooperativismo, mas nunca havíamos levado à prática. É por isso que decidimos, em primeiro lugar, nos organizar como cooperativa para logo, considerando a formação que cada um tinha, escolher uma categoria e nos especializar. A partir da conformação de La Maqueta nosso objetivo foi sempre "trabalhar no que gostamos e como gostamos".

ADITAL - Quais foram as principais dificuldades para alcançar êxito com La Maqueta? Que orientações dariam a outros jovens que desejem se organizar em cooperativas?

Joaquín Fernández Sancha – A maior dificuldade foi nossa inexperiência em vários assuntos, pelo que tivemos que nos formar na prática sobre diferentes aspectos, como aprender o ofício, a administração, comercialização, gestão e sobre o trabalho em equipe. Foi fundamental para nós estarmos convencidos que era possível que a cooperativa crescesse e chegasse ao que é hoje: uma empresa autogestionada que funciona dia a dia. Custou muito que alguns companheiros compreendessem que era um processo em longo prazo, os primeiros anos não tínhamos máquinas e nos faltavam muitos elementos. Cada dinheiro que entrava utilizávamos para comprar matéria prima ou ferramentas, muito tempo depois cada um dos associados começou a ganhar dinheiro. Por isso, no começo, a maioria tinha outros trabalhos além da cooperativa.

Nós colocamos o nome "La Maqueta" para a cooperativa, porque queremos ser uma mostra do que pensamos que deve ser a sociedade. Talvez nossa experiência sirva para outros jovens. O organizar-se com o que está ao lado para poder crescer coletivamente é muito importante, acreditamos que é uma forma de crescer como indivíduos nesta sociedade. O cooperativismo é uma ferramenta legal e técnica para poder desenvolver um trabalho em equipe de autogestão. Se bem o estado põe muitas travas burocráticas não tem que ter medo, tem que seguir adiante. Em nossa cooperativa ninguém nos deu nada, nunca ficamos esperando nenhum subsídio, saímos para a rua e nos pusemos à trabalhar, quando não entravam trabalhos, organizávamos festas e festivais para coletar fundos e poder comprar ferramentas e insumos para poder continuar trabalhando.

ADITAL – Como funciona a Cooperativa? Quais serviços são oferecidos e como os trabalhadores cooperados se organizam no trabalho?

Joaquín Fernández Sancha – Estamos organizados em autogestão: ou seja, as decisões e as responsabilidades são coletivas. Temos uma assembleia semanal, da qual participam todos os associados, na qual planejamos, avaliamos e discutimos os passos a seguir. Estamos divididos em diferentes áreas de trabalho e todos ganham o mesmo, de acordo com a quantidade de horas que cada um trabalha.

Os serviços que realizamos são os seguintes:

Impressão serigráfica: Impressão têxtil (Serigrafia, termo-estampado). Cartazes (Serigrafia de alto impacto, lonas: banners, lonas back light, lonas blackout). Gráfica adesiva (traçados, serigrafia sobre PVC e vinil, impressão de vinis, vinis micro perfurado, plotter de corte). Produtos publicitários (bonés, canetas, CDs, chaveiros, imãs, réguas e marcadores).

Desenho e comunicação visual: oferece serviços de desenho e elaboração de páginas web, papelaria institucional ou comercial, desenvolvimento de identidade, fotografia profissional, etc.

Imprensa e comunicação: oferece serviços de produção e redação jornalística, campanhas de imprensa e difusão, realização de áudios e vídeos institucionais.

Capacitação:destinado a outras cooperativas ou cooperativas em formação com o objetivo de oferecer apoio técnico para seu desenvolvimento e funcionamento.

ADITAL – Em âmbito mundial, o desemprego juvenil alcançou as maiores taxas nos últimos três anos, representando o dobro do desemprego geral. Qual é a importância das cooperativas como alternativas de desenvolvimento para a juventude?

Joaquín Fernández Sancha – Nós consideramos que se reunir em projeto cooperativista, em equipe, em que todos trabalham do mesmo lado, é uma forma de enfrentar o individualismo predominante na nossa sociedade. Se estivermos ilhados é muito difícil mudar essa realidade. Hoje predominam os trabalhos "freelancer”, no qual muitos jovens trabalham em suas casas sem saber para quem trabalham, nem com quem trabalham. Isso é preocupante, porque não recebem nenhum tipo de contribuição e não conhecem seus direitos. É uma arma a mais do sistema capitalista para que os jovens estejam dispersos e desorganizados. O cooperativismo é a forma contrária desse tipo de experiência, cada associado aprende algo de quem está ao seu lado trabalhando e, assim, avança e cresce profissionalmente em equipe. Quanto mais trabalho existe nas cooperativas, mais associados são incorporados.

ADITAL – Existem políticas de fomento do governo argentino para as práticas de economia solidária no país? Como são avaliadas as políticas públicas dirigidas a essa questão?

Joaquín Fernández Sancha – Existem vários organismos de estado, sobretudo do governo federal, que trabalham com programas de economia solidária e empresas autogestionadas. Alguns oferecem subsídios e capacitações, outros fomentam o intercâmbio e a comercialização de produtos da economia solidária. A dificuldade desses programas é que, em muitos casos, por ser do governo nacional, é difícil que cheguem a todas as províncias e municípios do país, já que não interessa a todos os governos provinciais o cooperativismo e a autogestão. Além disso, o problema principal é que a maioria desses tipos de programas é excessivamente estruturada e não se amolda a realidade de cada cooperativa em cada região.

ADITAL – Qual é a importância da organização social para o desenvolvimento da economia solidária como alternativa para a construção de uma nova sociedade?

Joaquín Fernández Sancha – Acreditamos que o modelo de economia solidária é uma ferramenta para poder avançar no sentido de um sistema mais justo e equitativo. Estamos construindo poder, econômico e político, nos organizando em cooperativas, federações e confederações. Independentemente de concordarmos ou não com companheiros que tem uma forma de construção diferente da nossa, sabemos que todos avançamos para o mesmo objetivo que é transformar a sociedade com o cooperativismo como forma de organização, pensando em nós como homens coletivos. A economia solidária não é uma parte da economia. Nós acreditamos que a economia solidária deve ser a economia que conduz a Argentina.

FUENTE: http://www.adital.com.br/jovem


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